12 maio 2015

‘A internet expressa a sociedade tal como é: sexista, racista, intolerante’, diz Castells

por Virgínia Andrade

‘A internet expressa a sociedade tal como é: sexista, racista, intolerante’, diz Castells
Foto: Ulisses Dumas / Ag. BAPRESS / Divulgação
Um dos intelectuais mais importantes da atualidade, o sociólogo espanhol Manuel Castells, 68, vê nas redes sociais um elemento de reconfiguração da política e da democracia mundiais. Através delas, é possível canalizar as mais diversas indignações, especialmente na atual crise de legitimidade das instituições políticas, e revertê-las em ações espontâneas de mobilização social, como foram os movimentos de 2013 no Brasil, o Occupy Wall Street, nos Estados Unidos, os Indignados, na Espanha, e a Primavera Árabe, onda de protestos que se espalhou pelo Oriente Médio e Norte da África. “Não é que pela internet se faça toda a política e que todo mundo vá à internet fazer política. Somente 18% dos cidadãos utilizam a internet para temas políticos, a maioria faz o que fazem todos. Mas o importante é que formas não-institucionais de política têm uma força que antes não tinham através da internet, porque permite fazer o essencial da política: comunicar”, pontuou Castells, durante coletiva de imprensa, nesta segunda-feira (11), da edição de estreia da temporada 2015 do projeto Fronteiras Braskem do Pensamento, em Salvador. Para o sociólogo, os grandes erros cometidos pelos governos são, em primeira escala, não se preocupar em manter a comunicação contínua com a população e acreditar que a única questão que importa é o voto. “Se uma democracia quer ser participativa, transparente e informada, a internet é um instrumento maravilhoso. Mas se a política não é participativa, informada e transparente, então a internet é um problema”, ressalta. Para o sociólogo, o grande ganho da internet é dispor de informações e torná-las acessíveis às pessoas. “A característica técnica mais importante da internet é a ‘viralidade’. De modo que tudo o que está na internet imediatamente se difunde no mundo inteiro. Não há impunidade social, tudo se sabe. As redes sociais como tal não podem fazer nada, mas conectam indivíduos, não aparatos, e isso muda absolutamente tudo”, declarou Castells. No que se refere à ideia de a internet ser um espaço de livre expressão e circulação de conteúdo e ideias, marcado pela falta de intermediação e controle, o pensador espanhol acredita que o meio revela exatamente o que a sociedade é e, diferente do que postula o filosofo francês Jean-Jacques Rousseau, quando livre, a humanidade não expressa fundamentalmente bons sentimentos. “A internet, precisamente porque é um meio pouco ou quase impossível de controlar, expressa a sociedade e é sexista, racista, intolerante, fascista, como pode ser revolucionário, utópico, espontâneo, anarquista e possivelmente humano. Em si, é um meio extraordinário de comunicação e informação das pessoas, mas que expressa a sociedade tal como é. Não se expressa nos outros, somos nós”, pontua Castells. O sociólogo catalão propõe romper com visão utópica e dicotômica de que a internet é boa e os meios tradicionais, maus, e investir em educação, única maneira de aproveitar todo o potencial que a internet dispõe.
 
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